sexta-feira, 23 de abril de 2010

Enquadramentos

Tinha dias em que se cansava do todo. Sempre fora um cara simples, bastava-lhe o pouco. Ora, tantas vezes já tinha visto "pra sempres” de vidro cumprirem seus inevitáveis destinos. Tantas outras vigiou o relógio apenas para descobrir que a hora sempre chega, mas os minutos que a precedem já se tinham perdido. Não se encaixava mais nesse mundo que não deixa sobrar o mínimo tempo necessário para viver. Não iria empurrado na massa, balindo e sorrindo, sem saber o que espera à frente. Não queria essa busca incessante por milhões de cores se, hoje, duas delas já lhe trariam satisfação. Se pudesse viver apenas pedaços de tudo aquilo que vinha acontecendo, lidaria somente com os pequenos problemas. Sorte daquele que enxerga moinhos, quando apenas moinhos há para enfrentar. Tomou o caminho contrário. Seguiria o exemplo do cineasta, que usava óculos porque precisava de enquadramentos. Verdade. Sem eles, há o risco de se perder em meio a tanta informação, no todo. Daí a importância dos detalhes, daí a invencibilidade dos pequenos prazeres, daí o valor das efêmeras felicidades. Estava triste, sim. Mas cada dia é um capítulo singular. Amanhã tentaria o hoje, o agora, o segundo, o click. Sairia para fotografar.

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