quarta-feira, 12 de maio de 2010

Sobre luzes, sombras, Bertóias e afins

Já há algum tempo ele observava as formas. Quem não se encantaria? Qual milagre divino este da luz, captada e refratada pelos corpos, traduzindo suas cores e curvas? Nasceu num mundo onde películas ainda espelhavam a beleza, imortalizavam momentos. Vive um universo em que sombras definem volumes, onde Modiglianis, Di Cavalcantis, Starcks e Campanas alimentam a alma. Não há como fugir: somos seres visuais. Numa refeição, a apresentação é o primeiro tempero. Até a natureza se desdobra para tornar tudo agradável às lentes de quem ama. Lembrou-se do grande arquiteto, que sabiamente transferiu para a sua obra as curvas que os homens instintivamente procuram. Fantástico esse universo do equilíbrio e desequilíbrio, das simetrias e das proporções Áureas, que iludem e brincam com a nossa percepção. Ele mesmo já tivera a oportunidade de fixar o olhar num mesmo corpo e presenciar as nuances que sofria com o passar das horas, dos caprichos de uma alvorada. Eis o dilema: poderia um objeto permanecer belo na total ausência da luz? Aí que está a graça. A beleza não se resume à forma. É preciso captar o conteúdo, o imutável. E quando se viu novamente cercado do escuro, perto da forma desejada, perguntou: como posso descobrir a tua essência? Ela, que também não o conhecia, sugeriu apenas: vamos conversando.

Nenhum comentário:

Postar um comentário